Vagueio lentamente por esta sombria cidade, de prédios cinzentos e soturnos. Arrastando-se pelas ruas, como zombies, vejo seres disformes, entregues aos seus próprios tormentos. Seres sem capacidade de decisão, sem ideias próprias, subjugados aos caprichos de um mestre que os comanda como se de meros fantoches se tratassem.
Subitamente, avisto-a ao longe. É ela, a minha presa. Aquela que eu tenho ávidamente procurado. Sigo-a por entre a multidão que passa, indiferente à minha passagem. Por vezes consigo aproximar-me dela, mas rapidamente ela se afasta, como que pressentindo a minha presença. De repente, deixo de a ver. Olho em redor, mas apenas consigo vislumbrar as silhuetas disformes daqueles autómatos humanos. Pergunto se a viram. Respondem-me “Não penses mais nisso. Junta-te a nós”. Afasto-os bruscamente. Se não fosse a pena que sinto em vê-los assim, metiam-me nojo!
Vejo uma porta aberta na imensa parede cinzenta de um prédio. Não imagino outro local por onde ela possa ter escapado. Decido entrar. Sigo por um corredor escuro e de intenso cheiro a mofo. Não vislumbro senão uma ténue claridade que passa por baixo das portas situadas de ambos os lados. Chego ao fim do corredor. Ouço uma voz aguda que diz “Mas, mas, mas... O meu patrão...” Subitamente, o som de algo a partir-se faz-me abrir de rompante essa porta. Entrando, vejo aquele pobre ser acéfalo, parado, sem reacção. Assim que me vê, vira-se para mim, e como se repetisse uma fita de gravador, pergunta: “Boa tarde, são dois casais?”. Pergunto por ela. Olhando para mim com uma expressão vazia, ele diz “Mas, mas, mas... O meu patrão...”. Virando costas, saio pela porta e dirijo-me de novo para a rua. Mas aquela reacção deixou-me intrigado. Escondendo-me numa pequena viela, decido ficar um pouco mais a observar aquela porta. De repente, vejo-a sair. Cautelosamente, vai olhando para ambos os lados, enquanto vai fechando a porta, que entretanto como que se dissolve na parede, restando nada mais que uma pequeníssima ranhura, indistinguível aos olhos dos restantes transeuntes, demasiado absortos em seu planeamento das tarefas diárias. Inquietada, a minha presa não imagina que a estava a observar. Retomo a perseguição, desta vez mais e mais próximo. Quando estou prestes a alcançá-la, oiço um ruído abafado e vejo-a cambalear. Segurando-a nos meus braços posso ver a marca na sua nuca, sinal que um outro caçador a apanhou antes mim. Dando um último suspiro, o seu corpo lentamente se transforma numa pequena nuvem branca de aroma intenso a flores. Vejo-a deslocar-se para o cimo de um prédio, onde avisto a silhueta do meu competidor. Aí, ela volta a materializar-se. A presa fica cativa do seu caçador. Ambos me acenam. Aceno de volta e sigo o meu caminho. Foi por pouco, penso. Mas haverá outras presas. O mundo está cheio delas e haverei de apanhar uma para mim.
Subitamente, avisto-a ao longe. É ela, a minha presa. Aquela que eu tenho ávidamente procurado. Sigo-a por entre a multidão que passa, indiferente à minha passagem. Por vezes consigo aproximar-me dela, mas rapidamente ela se afasta, como que pressentindo a minha presença. De repente, deixo de a ver. Olho em redor, mas apenas consigo vislumbrar as silhuetas disformes daqueles autómatos humanos. Pergunto se a viram. Respondem-me “Não penses mais nisso. Junta-te a nós”. Afasto-os bruscamente. Se não fosse a pena que sinto em vê-los assim, metiam-me nojo!
Vejo uma porta aberta na imensa parede cinzenta de um prédio. Não imagino outro local por onde ela possa ter escapado. Decido entrar. Sigo por um corredor escuro e de intenso cheiro a mofo. Não vislumbro senão uma ténue claridade que passa por baixo das portas situadas de ambos os lados. Chego ao fim do corredor. Ouço uma voz aguda que diz “Mas, mas, mas... O meu patrão...” Subitamente, o som de algo a partir-se faz-me abrir de rompante essa porta. Entrando, vejo aquele pobre ser acéfalo, parado, sem reacção. Assim que me vê, vira-se para mim, e como se repetisse uma fita de gravador, pergunta: “Boa tarde, são dois casais?”. Pergunto por ela. Olhando para mim com uma expressão vazia, ele diz “Mas, mas, mas... O meu patrão...”. Virando costas, saio pela porta e dirijo-me de novo para a rua. Mas aquela reacção deixou-me intrigado. Escondendo-me numa pequena viela, decido ficar um pouco mais a observar aquela porta. De repente, vejo-a sair. Cautelosamente, vai olhando para ambos os lados, enquanto vai fechando a porta, que entretanto como que se dissolve na parede, restando nada mais que uma pequeníssima ranhura, indistinguível aos olhos dos restantes transeuntes, demasiado absortos em seu planeamento das tarefas diárias. Inquietada, a minha presa não imagina que a estava a observar. Retomo a perseguição, desta vez mais e mais próximo. Quando estou prestes a alcançá-la, oiço um ruído abafado e vejo-a cambalear. Segurando-a nos meus braços posso ver a marca na sua nuca, sinal que um outro caçador a apanhou antes mim. Dando um último suspiro, o seu corpo lentamente se transforma numa pequena nuvem branca de aroma intenso a flores. Vejo-a deslocar-se para o cimo de um prédio, onde avisto a silhueta do meu competidor. Aí, ela volta a materializar-se. A presa fica cativa do seu caçador. Ambos me acenam. Aceno de volta e sigo o meu caminho. Foi por pouco, penso. Mas haverá outras presas. O mundo está cheio delas e haverei de apanhar uma para mim.
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