"Geme mal
Geme teatralmente na cama
Com os lábios sobrecarregados de baton
E sobrancelhas enlameadas de rimel
A madame filipa da cultura
Nem num local idílico
Tal megera
É capaz de ser autêntica
(aquisições vulgares)
Nos bordéis de odores
Os perfumes
Acusam de forma implícita
Os que cheiram mal
Tudo isto mete nojo
Remeto-vos para
Toda aquela gente chunga
Engravatada e misturada por
Todos aqueles odores nauseabundos
Com que julgam disfarçar os fatos
De cortes clássicos
A lembrar a rectidão dos antepassados
Nas repartições públicas
Funcionários
Reprimem os desejos
Evitam a custo
O dedo no nariz e o
Cuspir para o chão
Nas latrinas do estado
Receiam de forma cobarde
Os superiores e falam
Falam essas gentes de coragem
De moral, de ética, de civismo
Num acto de superioridade
Limpam das bocas subtis a palavra povo
E de facto
É um facto relevante
O facto de há muito não
Vos ver prostituir em troca dos tostões
Cheiram mesmo mal
... tão mal
Eterna parolada e saloiada
Chamar-vos todos os nomes
É pouco continuariam a não existir
... esquivam-se tão bem
Aos rótulos
Venham e tragam flores
Se ainda as houver
Venham e toquem-me
Pode ser que sinta
E que me façam crer
Que estão aqui
Não reprimas
Não disfarces a tua
Real natureza de ser
Mostra a decência
E mata
Mata, mata, Mata
Sempre que te apetecer
É o que te estão a fazer
Profissionalmente
Não estranhas naqueles bonecos
A mobilidade dos olhos
Que lhes desnuda a fraqueza e
A debilidade que os caracteriza?
Não te fode a cabeça
Ver todas aquelas marionetas
Abrir as bocas
E a este acto pernicioso e
Subvertido
Juntar-se-lhe uma enxurrada
De perdigotos
Que subtilmente inquinam
O ar que respiras?
Há muito
Que bateram no chão
Estão caídos – assobiem
Estão caídos – batam palmas
Estão caídos – dêem saltos
Já desinibido
Dirige-te aos locais solenes
(ah os locais solenes)
Que te fragilizam e subjugam
Que te fazem parecer sem ser
Mas, chama-me que eu parto contigo
Chama-me e
Que haja duplos triplos
Quintuplos sentidos
Nas putas das palavras
Partiremos por ir
Partiremos por voltar
Partiremos por subir
Desmontar rodopiar quebrar
Há que partir há que partir!
Não é necessário dizermos
Foda-se nem caralho
Nem tão pouco chamá-los de
Filhos da puta
Para lhes cativarmos a atenção
Utilizemos outro vocabulário
E digam digam
Estamos caídos – reivindiquem
Estamos caídos – partam
Estamos caídos – matem
... se o fim acabasse
Seria para sempre um presente irreal"
Luís Simões in brochura Rascunho
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