quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Eles andam aí! (Parte 1)

Era uma vez… quer dizer, não era, é! Esqueçam! Recomecemos…

Gregório era um anãozinho que habitava num luxuoso condomínio privado próximo do Campo Grande. A sua vivência abastada resultava da associação a uma vasta gama de empresas de bebidas alcoólicas. Todas elas tinham usado e abusado da sua fama por entre os jovens e sôfregos consumidores. Praticamente todos os habitantes da noite nacional conheciam o Gregório pessoalmente devido às suas devastadoras incursões em bares e discotecas. Até musicas tinham sido feitas em sua homenagem.
Mas havia um pequeno senão. Apesar da imensa fama, o seu feitio muito peculiar vinha causando amargos de boca nas pessoas que o conheciam. Havia os amigos regulares, que gostavam muito de desabafar com ele, deitando cá para fora tudo o que lhes ia na alma (e não só), e havia os conhecimentos de ocasião, que após uns belos shots de tequilla, acabavam em cenas menos próprias numa qualquer casa de banho de um bar.
Um dia os pais chamaram-no para terem uma conversa que lhe haveria de mudar a vida: ele tinha um irmão gémeo. O seu nome era Alzheimer e havia sido levado à nascença para a Alemanha pela ama, mas agora tinha conseguido descobrir a sua família verdadeira.
Desde logo os dois irmãos se entenderam muito bem. Começaram a andar juntos. Mas Alzheimer era muito temperamental e começou a dar cabo da cabeça a muitos dos amigos do Gregório. Enquanto juntos, Gregório como que dominava com a sua habitual postura, desenvolto, a debitar decilitros de cultura gastronómica. Mas na ausência deste, Alzheimer assumia uma faceta de “evil twin”, levando as pessoas a esquecerem-se por completo de muito do que haviam feito nessa noite.
Esta dupla subsistiu durante muito tempo. Até que Alzheimer começou a ter o seu próprio grupo de amigos, que foi crescendo e crescendo. Gregório, sentindo-se excluído, começou também a andar sozinho. Juntavam-se ocasionalmente, mas a sua convivência era cada vez menor.
Alertado por alguns esquecimentos do irmão, o fisco decidiu analisar as declarações de Gregório. Foi terrível. Há anos que ele fugia descaradamente ao IRS e nunca ninguém havia feito nada para contrariar essa situação. A DGCI decidiu tornar este caso um exemplo e resolveu cobrar tudo o que ele devia. E com juros! Separaram-se os irmãos. Alzheimer continuou a sua vida habitual, levando muitas pessoas ao desespero com a sua conversa amnesiante. Gregório viu-se forçado a vender todo o seu património, começando pelo apartamento no Campo Grande. Passou a habitar num esgoto da cidade de Praga, capital da República Checa, também chamada de cidade dourada. Mas a sua falta ainda é notada por todo o território nacional, pois raras não são as vezes que vemos os nossos amigos a chamar pelo Gregório numa qualquer sanita por aí!

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